O armazenamento de urina sob refrigeração preserva a amostra em análise química, celular e bacteriológica de ACS

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O armazenamento de urina sob refrigeração preserva a amostra em análise química, análise de celularidade e bacteriuria de ACS

Armazenamento da urina, sob refrigeração, conserva a amostra nas análises químicas, celularidade e bacteriuria no EAS

Karen Cristina Barcellos RibeiroI; Bruno Rotondo Levenhagem SerabionII; Eduardo Lima NolascoIII; Chislene Pereira VanelliIV; Harleson Lopes de MesquitaV; José Otávio do Amaral CorrêaVI

p>Farmacista do Hospital Universitário Sul Fluminense
IIGraduado em Farmácia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
IIAluno doutorando em Ciências Farmacêuticas no Laboratório de Imuno-endocrinologia- Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo (USP)
IVNutricionista Clínica do Centro de Tratamento de Doenças Renais e Fundação Imepem; Mestranda em Saúde Brasileira na UFJF
VMSc em Análise Clínica pela Universidade Santo Amaro (UNISA); professora adjunta na Faculdade Suprema; doutorando em Saúde no Brasil pela UFJF
VIPhD em Patologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF); professor adjunto e coordenador do Curso de Farmácia da UFJF

Endereço postal

p>ABSTRACT p>INTRODUÇÃO: A análise de constituintes anormais da urina e sedimento (SCA) compreende testes de grande valor diagnóstico e prognóstico na prática clínica. Quando a análise de ACS não pode ser realizada no prazo de duas horas após a colheita, a amostra deve ser preservada a fim de evitar interferências pré-analíticas. A refrigeração é a técnica mais aplicada devido à sua relação custo-eficácia. Além disso, apresenta menos inconvenientes quando comparada com a preservação química. No entanto, também podem ocorrer alterações no ACS em amostras sob refrigeração.
OBJECTIVO: Analisar a influência da refrigeração a 2 a 8ºC no armazenamento de amostras de urina no prazo de 24 horas.
MATERIAL E MÉTODO: Um total de 80 amostras de urina foram seleccionadas de pacientes admitidos no hospital universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que foram testadas para ACS à temperatura ambiente e armazenadas sob refrigeração durante 6, 12 e 24 horas.
RESULTADOS: Os resultados mostraram que a refrigeração provou ser eficaz quando comparada com amostras mantidas à temperatura ambiente, na medida em que as características físicas, químicas, microbianas e celulares foram preservadas. No entanto, a cristalúria esteve presente após um período de armazenamento de 6 horas.
CONCLUSÃO: Os testes revelaram que o arrefecimento preservou a celularidade e as características químicas das amostras de urina durante até 12 horas. No entanto, a precipitação de cristais era evidente neste método de armazenamento. Assim, as possíveis consequências do armazenamento de amostras de urina para o teste ACS nestas condições devem ser incluídas no relatório de análise.

Palavras-chave: urinálise; armazenamento de urina; cristalúria; piúria; hematúria Introdução.

RESUMO

INTRODUÇÃO: A pesquisa de elementos anormais e sedimentoscopia na urina (EAS) compreende testes de grande valor diagnóstico e prognóstico na prática clínica. Quando a análise do EAS não puder ser realizada dentro de duas horas após a coleta da amostra, esta deve ser conservada para que interferências pré-analíticas sejam evitadas. A refrigeração é a técnica mais utilizada devido ao custo-benefício e por apresentar menos inconvenientes quando comparada com conservantes químicos. No entanto, alterações no EAS também podem ocorrer na amostra sob refrigeração.
OBJETIVO: Analisar a influência da refrigeração entre 2 a 8ºC no armazenamento do EAS por um período de até 24 horas.
MATERIAL E MÉTODO: Foram selecionadas 80 amostras de urina de pacientes internados no hospital da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) testadas para EAS, à temperatura ambiente, e armazenadas sob refrigeração em 6, 12 e 24 horas.
RESULTADOS: Os resultados mostraram que a refrigeração foi eficaz quando comparada com amostras mantidas à temperatura ambiente, já que as características físicas, químicas, da celularidade e da microbiota da urina foram preservadas. No entanto, a cristalúria se fez presente desde as 6 horas de armazenamento.
CONCLUSÃO: Os testes demonstraram que a refrigeração preservou as características químicas e a celularidade da urina por até 12 horas. No entanto, precipitações de cristais mostraram-se evidentes neste método de armazenamento. Dessa forma, a sugestão de se relatar no laudo as possíveis consequências dessa forma de armazenamento de urina para o EAS pode ser importante..

Unitermos: uroanálise; armazenamento da urina; cristalúria; piúria; hematúria.

INTRODUCTION

The routine urine test or urinalysis is a vital laboratory tool in clinical practice. One of the most important urine analysis test is the screening of abnormal constituents and sediment (ACS). O teste ACS inclui análises físicas (características organolépticas, volume e densidade), químicas e microscópicas do sedimento urinário(2, 5, 7). Este é um teste barato e comummente disponível, que fornece uma quantidade considerável de informação útil sobre o diagnóstico de perturbações metabólicas e geniturinárias(1, 3).

Condições clínicas sistémicas evanescentes que podem afectar a função renal e/ou alterar a composição da urina, nomeadamente estado de hidratação, progressão e diagnóstico de diabetes, hepatopatia, anemia hemolítica ou envenenamento, podem ter maiores probabilidades de serem diagnosticadas e/ou monitorizadas pela análise das SCA(2, 4-6). Além disso, a avaliação da SCA é vital na detecção de doenças dos sistemas renal e urogenital, tais como glomerulonefrite, síndrome nefrótica, cistite, pielonefrite, insuficiência renal, litíase e mesmo cancro(2, 6).

p>Em laboratórios de patologia clínica, todos os procedimentos de análise, incluindo testes de urina, são divididos em fases pré-analíticas, analíticas e pós-analíticas(8, 17). A fase pré-analítica é a etapa em que são necessários procedimentos fundamentais para garantir a qualidade e o desempenho do serviço. Envolve a recolha, manipulação, processamento, entrega da amostra aos analisadores e armazenamento quando esta não é processada à chegada ao laboratório. É também responsável por 46% a 70% dos erros de laboratório, o que pode levar a resultados imprecisos, dificultando assim o diagnóstico clínico e os cuidados de saúde do paciente(8, 9, 11, 18).

Por isso, a recolha de urina (fase pré-analítica) deve seguir procedimentos básicos, a fim de obter uma amostra que reflicta as alterações físico-químicas, celulares e microbiológicas(2, 7). Idealmente, a amostra deve ser recolhida após a limpeza do tracto geniturinário através de urina espontânea e de preferência longa a meio da corrente após concentração nocturna (primeira micção da manhã). A expedição e análise da amostra deve ocorrer no prazo de duas horas após a recolha se mantida à temperatura ambiente(7, 12).

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)(2), quando a análise não puder ser realizada dentro deste período, devem ser utilizados conservantes a fim de conservar as características da urina e evitar resultados de análises incorrectos. Os principais factores directa ou indirectamente ligados ao estado do doente que são capazes de alterar os resultados da análise AES são os seguintes: medicamentos, vitaminas, exercícios físicos, dieta e mau armazenamento da amostra(2, 5).

Muitas situações não permitem a análise no prazo de duas horas após o micturição, portanto a preservação da amostra de urina torna-se uma etapa pré-analítica comummente aplicada, a fim de evitar as interferências anteriormente mencionadas. Existem vários conservantes que oferecem vantagens e desvantagens: ácido bórico, clorofórmio, fenol, formalina, tolueno, timol e refrigeração a 2 a 8ºC, que é o método mais amplamente aplicado(2, 7, 13) devido à sua relação custo-eficácia e menos inconvenientes em comparação com conservantes químicos(2, 12, 13).

A utilização da refrigeração pode levar a alterações nas SCA que incluem densidade, precipitação de cristais e mesmo alterações celulares(2, 13, 15). Além disso, o período de duração da eficiência de refrigeração é controverso, na medida em que alguns autores afirmam ser de 12 horas(2), enquanto outros recomendam até 24 horas(12).

OBJECTIVOS

O presente estudo visava verificar a influência da refrigeração a 2 a 8ºC no armazenamento de urina durante 24 horas antes da análise de ACS. As amostras refrigeradas foram comparadas com as mantidas à temperatura ambiente para a realização de análises físicas, químicas e microscópicas de ACS.

MATERIAL E MÉTODO

P>Patiente e amostras

As amostras de urina foram obtidas de pacientes adultos com idades compreendidas entre os 18 e os 60 anos, de ambos os sexos, que foram hospitalizados na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – hospital universitário e que tinham pedidos de análises ACS.

80 amostras de urina contendo 80 ml cada uma, provenientes de uma recolha de urina limpa a meio do jacto, após concentração nocturna. Foram armazenadas em recipientes padronizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e imediatamente enviadas para o sector de análise de urina do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário da UFJF e analisadas à chegada.

Após a realização do teste ACS, as amostras foram divididas e armazenadas a diferentes temperaturas (refrigeração a 2 a 8ºC e à temperatura ambiente). Além disso, foram avaliadas em períodos diferentes (6, 12 e 24 horas).

Todos os procedimentos de investigação foram aprovados pelo Comité de Investigação e Ética da UFJF – Hospital Universitário – Centro de Atenção à Saúde (número: 0085.0.420.000-10). O laboratório tem controlo de qualidade externo de acordo com as normas da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica.

Armazenamento

Após a realização do teste ACS à chegada imediata, o volume de urina restante (70 ml) foi dividido em dois frascos que foram armazenados durante 24 horas seguindo procedimentos diferentes: um foi armazenado no frigorífico e o outro foi mantido à temperatura ambiente. A temperatura do frigorífico foi ajustada entre 2 a 8ºC com verificação do tempo por termómetro máximo e mínimo ao longo de toda a experiência. O teste ACS foi novamente realizado.

ACS

Após a recolha do material, foi aplicada para análise a alíquota de 10 ml de urina. O exame físico foi realizado observando a cor, densidade, aparência e odor. A densidade foi avaliada com a utilização de um refractómetro, que foi sujeito a calibração com água destilada após cada análise.

A análise química foi realizada com a ajuda de tiras reagentes (UriquestPlus®), a fim de detectar a presença de leucócitos, nitritos, proteínas, sangue, bilirrubina, urobilinogénio, corpo cetónico, glucose, bem como o controlo do pH. Após a homogeneização, as áreas reagentes foram imersas em urina fresca e imediatamente removidas para evitar a dissolução do reagente da tira. Enquanto a tira foi retirada da urina, o excesso foi drenado para evitar a mistura de químicos. O tempo específico de reacção para cada parâmetro analisado foi observado e, subsequentemente, foi cuidadosamente comparado com a etiqueta do produto.

Após a análise química ter sido conduzida, foi realizada uma microscopia utilizando um microscópio óptico comum, seguida de centrifugação de 10 ml de urina a 1.500 rpm durante 5 minutos. Posteriormente, o sobrenadante foi removido e o sedimento foi ressuspenso e transferido para uma lâmina. Depois disso, procedeu-se à análise microscópica a 100 × 400 e ×. O sedimento foi avaliado a fim de verificar a presença de elementos tais como cristais, muco, gesso renal, células, bactérias e leveduras, entre outros. Os procedimentos acima mencionados foram adoptados em todas as análises de amostras e realizados após 6, 12 e 24 horas. Vale particularmente a pena mencionar que as amostras refrigeradas atingiram a temperatura ambiente antes de serem manuseadas em cada uma destas etapas.

Piúria e hematúria avaliadas em ACS

Vinte amostras de urina que mostraram mais de cinco piócitos e/ou eritrócitos / campo microscópico foram seleccionadas para avaliar a piúria e a hematúria. Consequentemente, 10 ml de urina foram centrifugados a 1500 rpm durante 5 minutos. Sem agitação e sem ressuspender o sedimento, os 9 ml superiores foram retirados e os 1 ml restantes foram homogeneizados e colocados na câmara de Newbauer. Posteriormente, os piócitos e os glóbulos vermelhos foram contados como descrito na literatura(17). O resultado foi libertado com o número de eritrócitos ou pyócitos/ml. Tanto o teste ACS como a quantificação de pyocytes e eritrócitos foram realizados por três analistas treinados, que adoptaram o mesmo critério.

Análise estatística

Procedimentos estatísticos foram utilizados utilizando o software Graph Pad Prism, versão 5.0, por análise de variância (ANOVA), seguido pelo teste de Tukey, com nível de significância de 5%. Os dados foram expressos como média ± erro padrão da média (SEM).

RESULTADOS

Inicialmente, as análises físicas (cor, aspecto e densidade) de 80 amostras de urina foram realizadas. A figura 1 mostra que as amostras de urina que estavam à temperatura ambiente e as refrigeradas não mostraram praticamente nenhuma diferença em termos de cor. No entanto, após 24 horas à temperatura ambiente, quatro amostras mudaram a sua tonalidade de amarelo para amarelo escuro (3) e vermelho (1).

Aspecto de correcção (Figura 2), 38 das 80 amostras de urina, que tinham sido mantidas à temperatura ambiente, eram claras no momento da recolha e 31 permaneceram com o mesmo aspecto durante todo o período de análise. As restantes 7 amostras tornaram-se turvas nas análises efectuadas após 24 horas. Um resultado completamente diferente foi observado nas amostras armazenadas sob refrigeração. Neste método de armazenamento, observou-se que após um período de seis horas de refrigeração algumas amostras se tornaram turvas ou ligeiramente nubladas, apesar de a maioria delas ter permanecido clara. Nas análises realizadas 12 e 24 horas após a colheita, houve uma inversão do perfil com predominância de características nubladas e ligeiramente nubladas. Portanto, no tempo zero, 38 amostras eram límpidas e apenas 11 amostras apresentaram esta característica no final do período de refrigeração de 24 horas.

Como na análise de densidade, observou-se que todas as amostras, refrigeradas ou não, deram resultados dentro de 1,005 e 1,035. 9 das 80 amostras mantidas à temperatura ambiente demonstraram um aumento máximo de 0,010 unidades. Relativamente às amostras mantidas sob refrigeração, apenas 3 mostraram um aumento da densidade em 0,005,

Na avaliação química, observou-se que 45 das 80 amostras de urina seleccionadas não mostraram qualquer alteração química detectada pela tira reagente quando analisadas à temperatura ambiente no momento da recolha. Mesmo após a refrigeração, estas 45 amostras não apresentaram qualquer alteração química, corroborando os dados apresentados durante este estudo. Assim, a refrigeração não exerceu qualquer efeito na análise química, o que poderia levar à positividade.

Nas 35 amostras restantes, um ou mais elementos anormais foram detectados nas tiras reactivas imediatamente após a recolha (Tabela 1). Nestas amostras com alterações químicas, que tinham sido mantidas sob refrigeração e analisadas após 6, 12 e 24 horas, não houve alteração qualitativa ou semi-quantitativa no rastreio, em contraste com a análise à chegada ao laboratório.

P>Apesando as amostras armazenadas à temperatura ambiente, a Tabela 2 mostra alterações em alguns parâmetros químicos, em contraste com os resultados obtidos com as amostras imediatamente analisadas. Na análise após 24 horas, as três amostras começaram a mostrar uma reacção positiva de nitritos, duas foram negativas para os leucócitos e uma foi negativa para a glicose.

Como ao pH das 80 amostras mantidas sob refrigeração e avaliadas pelas tiras reactivas, houve alteração do pH de 6,0 para 7,0 em apenas uma amostra. Pelo contrário, em amostras mantidas à temperatura ambiente (Tabela 3), houve alteração em 9 delas, principalmente 24 horas após a colheita.

Após as análises físicas e químicas, a análise ACS dos elementos formados nas amostras de urina refrigerada não revelou diferenças nos resultados de células epiteliais, contagem de pyocytes, eritrócitos e bactérias em relação às amostras avaliadas no momento da colheita.

No entanto, foi observado um aumento nos cristais de sedimentos urinários proporcional ao período de arrefecimento durante a análise qualitativa e semi-quantitativa, especialmente oxalato de cálcio, cristais de urina e cristais de fosfato amorfo (Quadro 4). Inicialmente, apenas 7 das 80 amostras apresentavam cristais. No final do período de arrefecimento de 24 horas, 36 amostras de urina apresentavam cristais precipitados e várias com mais do que um tipo de cristal. Quando mantidos à temperatura ambiente durante 24 horas, o número de amostras com cristais no momento da recolha mudou de 7 para 10 com precipitação de cristais.

P>Registando a urina armazenada à temperatura ambiente, a análise da piúria por microscopia revelou que o número de células diminuiu durante o período de 12 horas. Inicialmente, 6 amostras apresentaram 5 a 10 pyócitos/campo e apenas 3 permaneceram com a mesma contagem até ao final do período de 24 horas. 6 das 8 amostras de urina que mostraram 10 a 20 pyocytes/campo permaneceram com a mesma contagem após 12 horas e este total caiu para 5 amostras no final do período de 24 horas.

As a hematúria, 10 amostras mostraram valores superiores a 4 eritrócitos/campo, o que é estabelecido como o valor normal no laboratório clínico do Hospital Universitário. Isto foi corroborado pelos resultados da tira de urina que mostraram 9 amostras positivas. Quando as amostras foram mantidas à temperatura ambiente e analisadas após 6 horas, observou-se um declínio significativo na hematúria, na medida em que apenas 2 das 5 amostras contendo 5-10 eritrócitos/campo vermelho permaneceram com o mesmo número. Noutras amostras de urina com resultados que variaram entre mais de 10/10 eritrócitos/campo até numerosos eritrócitos/campo, houve também um número consideravelmente mais baixo após as primeiras seis horas. Esta redução não foi observada nas amostras de urina mantidas sob refrigeração mesmo após 24 horas.

Nas amostras armazenadas à temperatura ambiente, 10 amostras mostraram bacteriúria significativa após 12 horas, aumentando para 14 amostras após 24 horas, enquanto que as 8 amostras de urina que inicialmente apresentavam bactérias não sofreram quaisquer alterações.

Os resultados da análise quantitativa de piócitos revelaram que não houve alterações estatisticamente significativas (p > 0,05) nas amostras mantidas sob refrigeração, mesmo após 24 horas em comparação com as contagens obtidas nas amostras de urina analisadas no momento da colheita. Quando mantidas à temperatura ambiente, as amostras de urina analisadas tiveram apenas uma redução significativa (p < 0,05) na contagem de piócitos 24 horas após a colheita (Figura 3).

Realizámos também uma análise quantitativa de glóbulos vermelhos (Figura 4) mantidos sob refrigeração e houve uma redução substancial (p < 0,01) apenas após 24 horas. Em amostras que foram armazenadas durante 24 horas sem refrigeração, os resultados foram bastante diferentes, na medida em que após seis horas houve uma redução no número de glóbulos vermelhos (p < 0.01).05) e esta redução foi mais significativa após 24 horas (p < 0,001).

DISCUSSÃO

Urinalysis é um dos testes mais solicitados em medicina clínica. Por conseguinte, a recolha de material e análise deve ser apropriada para que se possam obter resultados precisos, ajudando assim no diagnóstico, tratamento e/ou monitorização do paciente(6, 10).

A fase pré-analítica é de importância primordial em todos os testes laboratoriais, incluindo os exames de urina. Nas análises ACS, devem ser seguidas algumas directrizes quanto à limpeza dos genitais externos, recolha adequada de material e encaminhamento imediato para o laboratório(2, 14, 17).

A amostra de urina submetida ao laboratório deve ser analisada no prazo máximo de duas horas após a recolha. Caso a entrega e/ou análise não seja efectuada imediatamente, a amostra deve ser submetida a algum método de conservação, quer físico (arrefecimento) ou químico (clorofórmio, timol, ácido bórico, entre outros) (2, 16). A refrigeração é o método de conservação mais aplicado nos laboratórios clínicos e é capaz de evitar a decomposição bacteriana. De acordo com Strasinger & Di Lorenzo(17), a refrigeração não interfere com os testes químicos, preserva a celularidade e impede o crescimento bacteriano. Este resultado foi aqui confirmado, na medida em que tanto os pacientes com valores negativos para os testes químicos (n = 45) como aqueles com reacções positivas detectadas (n = 35) não apresentaram quaisquer alterações no exame químico após armazenamento sob refrigeração. No entanto, a literatura descreve que o arrefecimento pode resultar num aumento da densidade avaliada pelo densitómetro de urina(16, 17). Estes dados foram corroborados pela experiência, que também variou em relação à densidade das amostras arrefecidas, na medida em que seis delas indicaram aumento neste parâmetro.

Conversamente, as amostras mantidas à temperatura ambiente sofreram alterações nos testes químicos, nomeadamente um aumento na presença de nitritos e uma diminuição nas amostras com leucócitos e glucose (Quadro 2). O aumento dos nitritos correlaciona-se com o metabolismo bacteriano no sedimento da urina, que é igualmente observado no material mantido à temperatura ambiente durante a sedimentoscopia. O estudo de Santos et al.(15) também sublinha o crescimento bacteriano na urina quando a amostra não é analisada imediatamente ou realizada sem o uso de métodos de conservação.

Como observado por Silva et al.(16), algumas amostras mantidas à temperatura ambiente durante um período prolongado e sem conservantes demonstraram um aumento do pH (Quadro 3), turbidez (Figura 2), e desintegração dos glóbulos vermelhos e das gesso.

Em contraste, o arrefecimento não mostrou alterações significativas no número de amostras de urina com bactérias, leucócitos e eritrócitos, provando ser um grande método para tais análises.

Outras vezes, o estudo mostrou precipitação de cristais na maioria das amostras arrefecidas, o que pode dificultar o exame microscópico do sedimento, como descrito na literatura(16, 17).

Na presente experiência, o cristal amorfo de urina estava frequentemente presente nas amostras após arrefecimento. Inicialmente, apenas duas amostras o mostraram. Após um período de refrigeração de seis horas, ele estava presente em seis amostras. No final da experiência, estava presente em quinze delas (Tabela 4). Contudo, segundo Machado et al.(11), a presença destes cristais normalmente não tem relevância clínica, embora possa interferir com a observação microscópica dos elementos formados quando em grandes quantidades.

A presença de cristais de ácido úrico na urina, houve um aumento considerável nas amostras arrefecidas a partir de 12 horas de armazenamento (Quadro 4). Este cristal pode ser detectado em doentes com leucemia, síndrome de Lesch-Nyhan e em alguns doentes com artrite gotosa(17).

Os cristais de oxalato e fosfato de cálcio foram dos mais frequentemente detectados aqui em ambas as amostras à temperatura ambiente e na sua maioria arrefecidas (Quadro 4). Estes cristais estão normalmente presentes na urina de pacientes com envenenamento químico, utilização de doses elevadas de ácido ascórbico e também ingestão de alimentos ricos em ácido oxálico(6, 11, 14). Embora seja dada pouca importância ao papel dos cristais de oxalato e fosfato de cálcio no diagnóstico de cálculos renais(17), este facto pode levar a interpretações erradas quanto ao risco de desenvolvimento de litíase renal, na medida em que o oxalato de cálcio pode representar até 80 % dos casos de nefrolitíase a nível mundial(6, 12).

Como foi dito anteriormente, as amostras arrefecidas foram devolvidas à temperatura ambiente para que pudessem ser examinadas, como recomendado na literatura(16). De acordo com Aguilar- Vallejo et al.(1), os cristais presentes nas amostras devido à refrigeração tinham tendência a redissolver-se na urina após serem devolvidos à temperatura ambiente. Os dados aqui recolhidos não corroboraram a literatura anterior. Neste estudo, os cristais permaneceram presentes quando as amostras foram devolvidas à temperatura ambiente em todos os intervalos de tempo.

Análise da piúria quantitativa e hematúria

Dados quantitativos relativos à piúria e hematúria também corroboram os resultados de Silva et al.(16). Na análise quantitativa de eritrócitos, quando as amostras não foram arrefecidas, houve uma diminuição significativa após seis horas da análise inicial (p < 0,05 ) enquanto que nos leucócitos mantidos nas mesmas condições, houve uma redução significativa apenas 24 horas após a recolha (p < 0.05) (Figura 3).

Ao submeter estas amostras a armazenamento refrigerado, os eritrócitos foram conservados até 12 horas após a colheita, mostrando uma redução significativa na hematúria apenas 24 horas após a análise inicial (p < 0.01 ). Em relação à piúria, a redução não foi estatisticamente significativa em nenhum dos períodos analisados (Figura 3).

Nesta investigação, foi demonstrado que os testes químicos, a celularidade (pyocytes) e a bacteriúria das amostras armazenadas sob refrigeração não se alteraram (excepto eritrócitos dentro do período de armazenamento de 24 horas), confirmando a importância deste método na preservação da urina. Contudo, a precipitação dos cristais foi evidente como variação pré-analítica a 2 a 8ºC.

Considerando os resultados obtidos, se a refrigeração das amostras de urina for necessária, é imperativo que as condições em que a amostra foi armazenada e as possíveis consequências do processo de rastreio do ACS sejam incluídas no relatório de análise.

ACKNOWLEDGMENTS

Para a professora Luanda Thais Mendonça Santos, MA em linguística, que contribuiu para a revisão crítica do texto.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Laboratório clínico: requisitos e recomendações para o exame da urina. Rio de Janeiro, p. 10, 2005.

7. COSTA, M. A. et al. Comparação dos resultados obtidos pelos métodos de contagem por campo e contagem de Addis modificada utilizados para a análise do sedimento urinário. Rev Bras An Clin, v. 38, n. 4, p. 224-9, 2006.

10. HIREN, P. P. A urinálise anormal. Pediatr Clin N Am, v. 53, p. 325-37, 2006.

13. SAMPAIO, F. J. B.; FILHO, G. D. B. Guia prático de urologia, 2000. Cap. 18.

14. SANCHES, C. A. B. et al. Norma PALC – versão 2010. Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. Rio de Janeiro: Editora Milograph Gráfica e editora LTDA, 2010.

17. STRASINGER,S. K.; DILORENZO, M. S. Urinálise e fluidos corporais. 3. Ed. São Paulo: Editorial Premier, 2009.

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